Cultivo de Pimentão em estufas agrícolas
O cultivo de pimentão (Capsicum annuum L.) pertence à família das solanáceas e destaca-se entre as hortaliças pelo grande volume comercializado e por apresentar diversidade de cores, formas e sabores, permitindo seu consumo “in natura” ou processado em forma de conservas, molhos ou condimentos.
Atualmente, há grande diversidade de tipos de pimentões, seja em relação ao formato, cor ou tamanho. Em relação à coloração, podem variar dos tons creme ao quase preto, passando pelo amarelo, laranja, vermelho e roxo. Em geral, esses materiais são de alta qualidade, com cotação de mercado mais alta, garantindo, desta forma, maior retorno financeiro ao produtor.
Verde, amarelo ou vermelho?
Os tipos de pimentão mais conhecidos são o amarelo, verde e o vermelho. Porém, o que nem todo mundo sabe é que esses três tipos são o mesmo pimentão em fases diferentes de amadurecimento.
O pimentão verde é um fruto imaturo, por isso é totalmente verde e tem um sabor mais acentuado. Deste modo, por ficar menos tempo em cultivo, colhido antes do amadurecimento, geralmente é o mais barato.
O pimentão amarelo é um estádio intermediário no grau de amadurecimento que sucede o verde e antecede o vermelho. Logo, o pimentão vermelho é a fase mais madura, e por isso seu sabor é mais suave. Entretanto, há cultivares com frutos maduros ou imaturos de várias outras cores, incluindo laranja, amarelo, marrom-chocolate, roxo e branco.
Por exemplo, o fruto da cultivar “Purple Beauty” é verde, passa pela coloração roxa e então, quando amadurece, torna-se vermelho. Há também frutos que, mesmo após o amadurecimento, permanecem verdes, como é o caso da cultivar ‘Permagreen’.
O pimentão roxo tem um sabor menos ácido que os demais, sobressaindo seu sabor mais adocicado. São mais facilmente cultivados em climas quentes e pouco úmidos. Em regiões com temperaturas médias entre 21 e 30°C podem ser cultivados durante todo o ano.
Em lugares mais frios, com boa luminosidade e irrigação, o cultivo em estufas torna-se uma opção viável. Vale ressaltar que, dentre os pimentões coloridos, o amarelo e, principalmente, o creme, como por exemplo cv. Ivory, só́ podem ser cultivados em ambiente protegido em virtude da suscetibilidade à queima dos frutos pelo sol.
Cultivo em estufas
O cultivo de hortaliças em estufas tem crescido e sido muito utilizado para determinados nichos, como para produtos com valor de venda mais elevado, a exemplo dos pimentões coloridos.
O ambiente protegido proporciona maior controle sobre as intempéries climáticas. É uma alternativa muito interessante, pois há o controle da entrada de chuva quando até o dano mecânico pode afetar a qualidade do produto que, além de diminuir a incidência de doenças e pragas, facilita o manejo.
Pela possibilidade de manejar os nutrientes com mais eficiência, a produtividade pode ser maior. É importante fazer uma análise do local de implantação da estufa, incluindo as características do solo e fins de uso, pois a estrutura é um dos principais custos envolvidos neste tipo de cultivo.
Oportunidade
A possibilidade de se produzir o ano todo em uma estufa, independente das condições climáticas, oferece a oportunidade de comercializar em uma época onde os frutos de campo não estarão disponíveis no mercado, proporcionando maior lucro.
Dessa forma, os picos se diluem ao longo do ano, fazendo com que os preços praticados sejam mais previsíveis em função da demanda constante. Atrelado a este fator, frutos diferenciados, como pimentões de coloração creme e roxa, são atrativos para um novo perfil de consumidores que emerge, potencializando o mercado de tais produtos vegetais.
Embora no Brasil utilizemos o que há de mais moderno em tecnologia, nos Estados Unidos, Holanda e Israel, eles controlam desde a temperatura até a concentração de CO2 na atmosfera dentro do cultivo protegido.
No Brasil, o total controle encareceria demais a produção, e os produtores ainda lutam para aumentar o consumo de pimentão colorido. Há o controle da entrada de chuva, impedindo os danos mecânicos e o excesso de umidade no ambiente, e diante disso a incidência de doenças tende a ser menor, pois muitas bactérias incidem nessas condições, atrelado às temperaturas altas.
Pela utilização das telas anti-afídio há, ainda, menor ataque de pragas e, como muitos insetos são vetores de viroses, há menor incidência de vírus.
Manejo e tratos culturais
O solo indicado para o cultivo de pimentão deve ser bem drenado (livre de encharcamento), profundo, fértil, com pH entre 5,5 a 7,0. O sistema de tutoramento é um dos principais pontos a ser decidido no cultivo do pimentão em estufa.
Os mais comuns são o tutoramento em ‘V’ e espaldeira simples. O tutoramento em “V” consiste em um par de mourões fincado nas extremidades de cada leira e outro par no centro, de maneira a formar um “V”.
Já́ em espaldeira simples, um mourão é colocado nas extremidades de cada leira e um outro no meio, de forma a estarem alinhados com a fileira de plantas. À medida que as plantas crescem, em ambos sistemas, fitilhos de plástico ou fios de arame devem ser colocados como suporte para as plantas, cujas hastes devem ser periodicamente presas.
Os fitilhos ou fios utilizados na amarração das plantas devem ser presos a varas de bambu e estas, por sua vez, presas ao arame superior. Outros pontos a serem observados no manejo em estufas é o espaçamento entre plantas, que pode variar de 25 a 50 cm, e o sistema de condução, que no cultivo em estufas é recomendado a eliminação das brotações laterais abaixo da primeira bifurcação e selecionar as hastes para condução, normalmente quatro.
Esta pratica tem por objetivo reduzir o desenvolvimento exagerado das plantas e facilitar o manejo na estufa.
Nutrição
No caso da nutrição de plantas, que é outro fator que tende a aumentar a produtividade, por haver pouca ou nenhuma entrada de chuva e a água que entra no sistema ser toda por irrigação, quase não há lavagem dos nutrientes. Assim, os nutrientes permanecem ali disponíveis para as plantas.
Os fertilizantes utilizados em cultivo protegido geralmente são um pouco mais caros. Porém, como as quantidades utilizadas são menores e mais eficientemente utilizadas, há diminuição de custo.
Eficiência
O grande custo do cultivo protegido é a instalação da estufa e do sistema de irrigação, que geralmente utiliza o gotejo, que nessa situação é mais eficiente, embora seja mais caro. Assim, mesmo quando é preciso usar defensivos, não há a lavagem tão rápida dos produtos, tornando a operação mais eficiente, com menos aplicações e menor quantidade de produtos, resultando no controle eficaz da praga ou doença.
A colheita, em cultivo protegido de pimentão, inicia-se por volta dos 110 dias após o transplante das mudas. Os pimentões coloridos são colhidos por cerca de seis meses e, por ficarem mais tempo na planta, acarretam redução de produtividade.
No entanto, o contraponto é a procura significativa por pimentões coloridos, que atingem preços maiores no mercado. E, como são comercializados maduros, a colheita deve ser próxima ao amadurecimento total do fruto na planta.
Potencial de mercado dos híbridos
Existe hoje, no mercado, o predomínio de híbridos, que se caracterizam pela resistência múltipla a doenças, alto vigor, produtividade, precocidade de produção e uniformidade. Além de cultivares tradicionais de frutos verdes (quadrados ou cônicos) e vermelhos quando maduros, há também um grande número de híbridos de pimentão coloridos, em cores que variam do marfim à púrpura, passando pelo creme, amarelo e laranja, e podem também apresentar resistência a diferentes doenças.
A área cultivada com estes híbridos ainda é pequena, e as sementes importadas correspondem a 1% do volume total de sementes de pimentão comercializadas no Brasil, sendo cultivadas em estufas. Em média, o preço de venda destas sementes é R$ 15 mil/kg.
Mais produtividade
O cultivo protegido traz vários benefícios, desde que seja bem conduzido, com acompanhamento técnico. É bom lembrar que o uso excessivo de fertilizantes e/ou defensivos é um grande vilão.
O manejo inadequado da cultura pode inviabilizar o cultivo protegido de pimentão em três anos, mas, se bem conduzido, alcança produtividade de duas a três vezes maior do que o sistema a céu aberto.
Cuidados
O principal cuidado com a irrigação deve ser a utilização de água de boa qualidade e quantidade adequada da lâmina de irrigação, de acordo com as necessidades da cultura. No caso especial da fertirrigação, é bom ter cuidado quanto às doses de adubo utilizadas.
A utilização de água de baixa salinidade e a limpeza periódica dos gotejadores (pois, invariavelmente, há precipitações de sais, do contrário pode haver entupimento e distribuição desigual de água pela estufa) são cuidados fundamentais no cultivo protegido. É bom saber que as plantas bem nutridas são mais resistentes ao ataque de pragas e doenças.
Outro manejo para diminuir a incidência de pragas e doenças é evitar a monocultura espacial e temporal. No primeiro caso, é quase inevitável, pois geralmente se planta uma cultura apenas. O problema é a monocultura temporal, quando toda a vida útil da estufa acontece com o plantio de apenas uma cultura e, inevitavelmente, há o aumento da incidência de doenças, principalmente de solo, sejam elas fúngicas ou bacterianas.
Para evitar o problema, recomendamos a rotação de culturas, a utilização de matéria orgânica de qualidade no solo, fazer o controle racional de pragas e doenças, não aplicar inseticidas antes que apareça o problema, fazer o acompanhamento do nível populacional de insetos e só́ aplicar o inseticida quando for atingido determinado nível de controle. É importante o monitoramento da cultura quanto à incidência de doenças.
Existe outra possibilidade quanto às doenças de solo, que é migrar do plantio em solo para o cultivo em substratos ou hidropônica. Pesquisas realizadas com produtores de pimentão mostraram o surgimento de muitos problemas associados ao uso excessivo de fertilizantes.
Observou-se, há pouco tempo, no Estado Goiás, um empreendimento de 48 estufas com a maior parte produzindo pimentão, que a utilização de muito adubo salinizou o solo, causou uma série de desequilíbrios e inviabilizou a produção. O produtor tem que evitar esse problema, pois solucioná-lo é muito difícil e oneroso.
Por isso, a adubação deve ser baseada na análise do solo e na utilização do que a planta realmente necessita. É preciso cuidado para não haver também temperatura e umidade excessivas, que podem facilitar a entrada de doenças, como a murcha bacteriana.
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